Menstruação: Um assunto sério e cheio de tabus
A menstruação é um processo natural na vida de milhões de mulheres e pessoas que menstruam ao redor do mundo, e ainda assim, permanece envolta em tabus e desinformação. Este fenômeno biológico, que ocorre mensalmente desde a puberdade até a menopausa, não deveria ser motivo de constrangimento ou desinformação. Porém, a realidade é diferente, principalmente em países em desenvolvimento, como o Brasil. A pobreza menstrual atinge milhões de pessoas no Brasil, trazendo à tona questões de saúde, dignidade e igualdade.
Pobreza menstrual atinge milhões de pessoas no Brasil
Em um país de dimensões continentais e, infelizmente, com uma grande desigualdade social, a menstruação ainda é um tabu, e a pobreza menstrual afeta diretamente muitas vidas. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), aproximadamente 500 milhões de pessoas no mundo não têm acesso a produtos de higiene adequados durante o período menstrual. No Brasil, essa realidade é igualmente alarmante.
Um estudo do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e do UNICEF aponta que 713 mil meninas vivem em residências sem banheiros ou chuveiros e mais de 4 milhões não têm acesso a itens básicos de higiene nas escolas. A falta de acesso a produtos de higiene menstrual pode levar a consequências sérias, incluindo a perda de interesse pela educação e a marginalização social.
Desigualdade e desafios na saúde menstrual
Quem está em situação de vulnerabilidade enfrenta não só a falta de acesso a absorventes, mas também a falta de informações sobre saúde menstrual. Essa ausência de conhecimento pode levar a práticas perigosas, como o uso de materiais inadequados, que podem causar infecções e desconforto físico. A ginecologista Luana Lima destaca que a menstruação muitas vezes traz sintomas desagradáveis, como cólicas, irritabilidade e até mesmo alterações no comportamento. Para quem já enfrenta uma situação difícil, isso se torna um fardo ainda mais pesado.
O período menstrual, que já é um desafio por si só, torna-se um pesadelo quando não se tem o que é necessário para mantê-lo sob controle. Muitas mulheres recorrentes a soluções improvisadas como papel higiênico, miolo de pão ou até mesmo tecidos velhos, colocando sua saúde em risco. Essa realidade deve ser discutida e tratada com seriedade.
O Programa Dignidade Menstrual
Para combater essa situação alarmante, o Governo Federal brasileiro implementou, em 2023, o Programa Dignidade Menstrual, que busca distribuir gratuitamente absorventes para pessoas entre 10 e 49 anos em situação de vulnerabilidade. A articulação entre diversos ministérios é um passo importante para enfrentar essa desigualdade. Desde o início da distribuição, em janeiro de 2024, mais de 1,7 milhão de pessoas já foram beneficiadas, principalmente em regiões mais necessitadas, como o Nordeste, onde estados como Bahia e Ceará lideram essa ação.
No entanto, é importante ressaltar que o acesso a esses produtos não é tão simples quanto parece. Mesmo com a iniciativa do governo, as pessoas em situação de rua enfrentam dificuldades. Muitas não têm documentos para comprovar sua identidade, o que pode impedi-las de acessar os absorventes. Essa complexidade ressalta a necessidade de uma abordagem mais eficaz e inclusiva para garantir que todos tenham direito a uma menstruação digna.
A experiência de quem vive a pobreza menstrual
Juíza Valladão, assistente social de um projeto que atende pessoas em situação de rua, destaca que mesmo com a distribuição de absorventes, os desafios persistem. A falta de acesso a banheiros e a higiene adequada é um problema que vai além da simple distribuição de produtos. É uma questão de dignidade e saúde básica. Não se trata apenas de dar um absorvente, mas também de proporcionar condições para que as pessoas possam se manter limpas e saudáveis.
Bruna Santos, educadora social e ex-moradora de rua, tem uma visão única sobre a pobreza menstrual. Ela passou 15 anos em situação de vulnerabilidade e sabe como é difícil viver sem recursos adequados durante a menstruação. Sua história é uma poderosa lembrança de que mudanças significativas devem ser feitas em políticas públicas e nas percepções sociais para garantir que ninguém seja deixado para trás.
Como podemos ajudar?
É fundamental que todos nós, enquanto sociedade, nos unamos para combater a pobreza menstrual. Ações simples, como coletar doações de produtos de higiene e promover campanhas de conscientização, são maneiras eficazes de contribuir. Muitas organizações não governamentais já estão fazendo um trabalho incrível nesse sentido, como a ONG Fluxo Sem Tabu, que visa criar um espaço seguro para o diálogo sobre menstruação e igualdade de gênero.
Cada um de nós pode se tornar um agente de mudança em sua comunidade. Conversar sobre menstruação, desmistificando tabus e abordando a questão da pobreza menstrual, é um passo importante para garantir que todas as pessoas tenham acesso ao básico necessário para sua saúde e dignidade.
Perguntas Frequentes
Como a pobreza menstrual afeta a educação das meninas?
A falta de acesso a produtos de higiene menstrual pode levar muitas meninas a faltarem às aulas durante o período menstrual, prejudicando sua educação e desenvolvimento.
Quais são as alternativas seguras para absorventes?
Alternativas como copos menstruais e absorventes reutilizáveis podem ser opções sustentáveis e seguras, porém podem exigir um investimento inicial maior.
Como o Programa Dignidade Menstrual funciona?
O programa distribui absorventes gratuitamente a pessoas entre 10 e 49 anos em situação de vulnerabilidade, através de diferentes instituições e pontos de retirada.
É perigoso usar materiais improvisados durante a menstruação?
Sim, usar materiais inadequados pode causar infecções e danos à saúde, já que não possuem características higiênicas necessárias.
O que podemos fazer para ajudar?
Você pode se envolver em campanhas de arrecadação de produtos de higiene, promover a educação sobre saúde menstrual e apoiar iniciativas que atuam nesse setor.
Por que é importante discutir a menstruação abertamente?
Conversar sobre menstruação ajuda a quebrar tabus e a criar um ambiente de apoio e compreensão, essencial para melhorar a saúde e o bem-estar de todos.
Conclusão
A menstruação é uma parte natural da vida, mas a pobreza menstrual atinge milhões de pessoas no Brasil e em todo o mundo, trazendo à tona questões de desigualdade e saúde. O Programa Dignidade Menstrual é um passo importante, mas ainda há muito a ser feito. A conscientização e a ação coletiva podem mudar essa realidade, tornando o período menstrual uma fase digna e segura para todas.

Editora do blog ‘Meu SUS Digital’ é apaixonada por saúde pública e tecnologia, dedicada a fornecer conteúdo relevante e informativo sobre como a digitalização está transformando o Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil.