Do tabu para o tabuleiro: jogo inovador sobre ciclo menstrual é lançado pela EPSJV em parceria com o IOC

Ao longo da história, o ciclo menstrual sempre foi cercado por uma aura de mistério e vergonha, frequentemente considerado um tabu em diversas culturas. Essa situação só se intensifica com a falta de informação e a desinformação que ronda essa fase tão importante da vida de muitas pessoas. No entanto, iniciativas como a que será abordada neste artigo: a parceria entre a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV) e o Instituto Oswaldo Cruz (IOC), resultaram no desenvolvimento do jogo “Ciclo do Poder”. Este projeto inovador visa desmistificar o ciclo menstrual e promover diálogos francos e respeitosos sobre o tema.

Neste artigo, vamos explorar a importância dessa proposta, o funcionamento do jogo, como ele pode impactar a educação e, especialmente, como pode ajudar a romper com o estigma associado ao ciclo menstrual. O objetivo é criar um espaço seguro e construtivo para discutir um assunto que afeta a vida de muitas pessoas de maneira muito mais profunda do que apenas questões biológicas.

A importância da educação menstrual

A educação menstrual é fundamental para que as pessoas que menstruam possam entender melhor seus corpos e suas necessidades. O ciclo menstrual não é apenas um fenômeno físico, mas envolve aspectos emocionais, sociais e culturais. Renata Monteiro, pesquisadora do IOC, destaca que criar um ambiente seguro para o diálogo permite “desmistificar e naturalizar um tema que, infelizmente, ainda hoje é cercado de vergonha e tabu”. Essa afirmação não é apenas uma observação; é um chamado à ação.

Ainda no cenário atual, muitos jovens não têm acesso a informações adequadas sobre o que significa menstruar. Um estudo da organização internacional Plan International revelou que 1 em cada 10 meninas na América Latina faltam à escola durante o período menstrual devido à falta de insumos de higiene e à vergonha de falar sobre o assunto. Isso levanta questões não apenas sobre a saúde física, mas também sobre a dignidade e os direitos humanos. Portanto, iniciativas que buscam promover uma melhor compreensão do ciclo menstrual são essenciais.

Do tabu para o tabuleiro: EPSJV, em parceria com o IOC, lança jogo sobre ciclo menstrual

O jogo “Ciclo do Poder” é uma proposta inovadora que vai além de meras explicações teóricas. Ele é baseado em uma estrutura de jogo cooperativo, onde não existem vencedores ou perdedores. Esse caráter colaborativo é projetado para promover o diálogo e o compartilhamento de experiências, permitindo que os participantes reflitam sobre suas próprias vivências e sentimentos em relação ao ciclo menstrual.

A narrativa do jogo gira em torno da personagem Cris, que está prestes a menstruar pela primeira vez. Ao longo do tabuleiro, que representa os 28 dias típicos de um ciclo menstrual, os jogadores têm a oportunidade de acessar diferentes páginas do diário de Cris. A mecânica do jogo permite que os participantes ajudem Cris a enfrentar diversos dilemas, propondo soluções por meio de cartas de alternativas que geram debate em grupo. Essa abordagem interativa transforma o aprendizado em uma experiência dinâmica e envolvente.

Além de abordar questões práticas, como o acesso a produtos de higiene, o jogo também estimula a empatia. Os jogadores são desafiados a colocar-se no lugar de Cris e a pensar criticamente sobre as situações que ela enfrenta. Como diz Cynthia, uma das pesquisadoras envolvidas no projeto: “O ‘Ciclo do Poder’ procura favorecer o diálogo e a empatia a respeito dessa temática”.

O papel do educador na mediação do jogo

Uma característica essencial do “Ciclo do Poder” é a necessidade de um educador ou mediador durante o jogo. Isso não é apenas uma questão de supervisionar a atividade, mas sim de guiar as discussões e garantir que o espaço seja seguro e acolhedor para todos os participantes. O mediador é responsável por facilitar a troca de ideias e assegurar que todos tenham a chance de se expressar.

A ausência de um gabarito único para as soluções é uma das forças do jogo: incentiva a reflexão coletiva e permite que diversas perspectivas coexistam. Ao discutir as várias alternativas disponíveis, os jogadores não apenas aprendem sobre o ciclo menstrual, mas também desenvolvem habilidades importantes, como a comunicação e a capacidade de trabalhar em equipe.

Impactos sociais e políticos da proposta

A saúde menstrual é um tema que perpassa diversas esferas da vida social e política. De acordo com Josilene Santos, coordenadora-geral de Ações Temáticas e Diversidade do Ministério das Mulheres, a falta de acesso a informações e insumos de higiene pode levar a consequências graves. Durante sua palestra no lançamento do jogo, ela compartilhou um caso que ilustra essa realidade: uma jovem de 13 anos que teve complicações de saúde por utilizar jornal como absorvente.

Essa situação não é única e ressalta a importância das políticas públicas e da educação que vão além do simples fornecimento de materiais. A dignidade menstrual deve ser uma prioridade para garantir que todas as pessoas que menstruam tenham acesso a cuidados adequados e possam viver essa fase da vida com dignidade e saúde.

Além disso, a colaboração entre diferentes instituições, como a EPSJV e o IOC, demonstra que a união de forças pode levar a resultados mais significativos e impactantes. Ao celebrar a aprovação de uma emenda parlamentar que viabiliza a impressão de mais exemplares do jogo, o grupo evidencia o potencial transformação social da iniciativa.

Reconhecimento e impacto no cenário educacional

O “Ciclo do Poder” recebeu atenção significativa no cenário educacional e cultural. Em 2024, o jogo conquistou prêmios importantes, incluindo reconhecimento no XXXIII Simpósio Brasileiro de Jogos e Entretenimento Digital. Ele foi destacado nas categorias Melhor Boardgame, Melhor Visual de Boardgames e Melhor Arte para Boardgames. Esses prêmios não apenas validam a qualidade do trabalho desenvolvido, mas também ressaltam a importância de abordar temas tabu através de formatos inovadores e acessíveis.

Por meio de iniciativas como essa, surgem novas oportunidades para discutir a saúde menstrual nas escolas. A disponibilização do jogo como um recurso pedagógico vai além do aprendizado individual; tem o potencial de gerar uma mudança cultural em torno do ciclo menstrual. As gerações futuras podem, assim, crescer em um ambiente onde a menstruação não é mais um tabu, mas um assunto aberto e natural.

Perguntas Frequentes

Como o jogo “Ciclo do Poder” pode ajudar na educação sobre o ciclo menstrual?
O jogo promove o diálogo aberto e a reflexão coletiva, permitindo que os participantes compartilhem experiências e aprendam sobre o ciclo menstrual de maneira interativa.

Qual é o público-alvo do jogo?
O “Ciclo do Poder” é voltado principalmente para crianças e adolescentes de 10 a 15 anos, mas pode ser utilizado por qualquer pessoa interessada no tema.

O que o jogo ensina além do ciclo menstrual?
Além do conhecimento sobre menstruação, o jogo promove habilidades importantes, como empatia, comunicação e trabalho em equipe.

Como o educador pode mediar o jogo?
O educador atua como facilitador, guiando as discussões e garantindo que todos os participantes se sintam à vontade para expressar suas opiniões.

Por que a dignidade menstrual é um tema importante?
A dignidade menstrual é fundamental para garantir que todas as pessoas que menstruam tenham acesso a cuidados adequados, promovendo saúde e autoestima.

Como as políticas públicas podem impactar a saúde menstrual?
Políticas públicas eficazes podem garantir o acesso a produtos de higiene, educação e infraestrutura adequada, melhorando a qualidade de vida das pessoas que menstruam.

Conclusão

A criação do jogo “Ciclo do Poder” representa uma mudança significativa na forma como a educação sobre o ciclo menstrual é abordada no Brasil. Ao transformar um tema repleto de tabus em um espaço de diálogo e aprendizado, a iniciativa busca não apenas informar, mas também empoderar as novas gerações. Com a união de esforços, como a parceria entre a EPSJV e o IOC, estamos caminhando na direção de uma sociedade mais consciente e respeitosa, onde o ciclo menstrual é tratado com a dignidade que merece.

Assim, iniciativas que promovem a educação menstrual se tornam não apenas uma ferramenta de aprendizado, mas um verdadeiro agente de transformação social. Ao desmistificar o ciclo menstrual, estamos construindo um futuro onde todas as pessoas que menstruam podem viver essa fase da vida com confiança e dignidade.