A menstruação é uma das experiências biológicas mais naturais do mundo, e ainda assim, muitas pessoas enfrentam desafios diários em decorrência dela. A chamada pobreza menstrual é um fenômeno que atinge não apenas a saúde e o bem-estar das pessoas, mas também sua dignidade e igualdade de direitos. De acordo com dados alarmantes, milhões de meninas e mulheres brasileiras ainda sofrem com a falta de acesso a produtos de higiene menstrual, um reflexo maior de desigualdades sociais e econômicas. Neste artigo, vamos explorar a transição da pobreza para a dignidade menstrual, abordando as dificuldades enfrentadas por muitas pessoas que menstruam e as soluções possíveis para garantir a dignidade necessária durante esse período.
Da pobreza à dignidade menstrual
A pobreza menstrual é frequentemente alimentada por uma combinação de discriminações sociais e dificuldades econômicas. De acordo com o relatório “Pobreza Menstrual no Brasil”, uma relevante pesquisa realizada em parceria pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), é alarmante saber que cerca de 713 mil meninas não têm acesso a banheiros adequados em suas residências. Além disso, a pesquisa expõe que 1,4 milhão de meninas estudam em instituições que não possuem papel higiênico, e 3,5 milhões têm à disposição o sabão em suas escolas. Essas informações não são apenas dados frios, mas refletem histórias de pessoas que, em situações de vulnerabilidade, lidam com a menstruação como um fardo e não como uma parte natural da vida.
Infelizmente, a situação se agrava para os grupos mais marginalizados, como a população negra e de baixa renda. As estatísticas indicam que oito em cada dez meninas sem acesso a banheiros são negras ou pardas. Quando falamos de saneamento, dados ainda mais alarmantes aparecem: 68% das moradoras de lares sem acesso adequado a esgoto são negras. Essas realidades desfavoráveis exacerbam desvantagens já existentes em termos de educação e saúde, criando um ciclo vicioso de pobreza que perpetua a exclusão.
Pororocas de desafios não param apenas na falta de infraestrutura, mas se estendem para os estigmas que envolvem a menstruação. A cultura muitas vezes impõe tabus que dificultam a discussão sobre saúde menstrual, fazendo com que muitas mulheres e meninas não se sintam confortáveis para falar sobre suas necessidades básicas. A vergonha e o medo de serem vistas de maneira diferente podem levar a uma série de problemas emocionais e comportamentais, como a ansiedade e a depressão. Nesse contexto, a educação menstrual, que poderia ser uma ferramenta poderosa, muitas vezes não acontece, pois as instituições não estão preparadas para acolher o tema.
Para muitas, a falta de absorventes adequados representa um verdadeiro obstáculo à participação na escola e no trabalho. De acordo com uma pesquisa realizada pela Sempre Livre, 12% das mulheres de baixa renda afirmaram que faltaram ao trabalho devido à falta de absorventes, como se a menstruação fosse algo que pudesse ser controlado ou encoberto. Além disso, aproximadamente 26% das adolescentes entre 15 e 17 anos não têm acesso a produtos de higiene, o que representa uma perda significativa de oportunidades. Isso se traduz em um impacto não apenas na educação dessas jovens, mas também nas gerações futuras.
A Política de Dignidade Menstrual
Uma luz no fim do túnel começou a surgir com a implementação de políticas voltadas para a dignidade menstrual. O Dia Nacional da Dignidade Menstrual, celebrado em 28 de maio, busca sensibilizar a opinião pública sobre esse assunto e reverter a situação das pessoas que menstruam. O Programa de Dignidade Menstrual do governo brasileiro, que se propõe a distribuir absorventes de forma gratuita para necessitados, é um passo importante nessa luta.
As diretrizes do programa são claras: para ter acesso aos produtos, é preciso estar inscrito no Cadastro Único (CadÚnico) e atender a uma série de critérios. Os beneficiários podem retirar até 40 absorventes higiênicos a cada 56 dias, mediante apresentação de um documento de identificação e autorização emitida por meio do aplicativo Meu SUS Digital.
Entretanto, vale ressaltar que embora esta seja uma iniciativa preciosa, ainda há muitos desafios pela frente. O sistema de saúde precisa ser fortalecido para que todas as localidades do Brasil possam ter acesso às farmácias que participam do programa. A distribuição adequada e eficiente depende de um planejamento que leve em consideração as variáveis sociais, econômicas e geográficas do país.
Consequências da pobreza menstrual
A pobreza menstrual tem um impacto devastador não apenas na saúde física das mulheres, mas também em sua saúde mental. Estudos demonstraram que a insegurança em relação a produtos de higiene menstrual pode levar a um aumento da ansiedade, da depressão e da baixa autoestima. Isso se torna especialmente preocupante, visto que as mulheres e meninas que menstruam já enfrentam dilemas significativos relacionados ao estigma.
A relação entre a pobreza menstrual e o desempenho escolar também é digna de nota. Quando a menstruação é tratada como um tabu, isso resulta em um ambiente hostil para as estudantes. Muitas meninas optam por faltar à escola durante o período menstrual, o que inviabiliza sua aprendizagem e progresso acadêmico. As maiores vítimas, mais uma vez, são as que já estão em posição de vulnerabilidade, que se veem impedidas de seguir seus sonhos e objetivos devido a um fenômeno tão natural. A questão da inclusão em espaços educacionais é urgente e precisa de atenção.
Nessa perspectiva, deve-se fazer um chamado à ação para facilitar uma mudança de cultura. O que se espera é que, ao ampliar a discussão sobre a dignidade menstrual de maneira inclusiva, consiga-se quebrar o ciclo de constrangimento e desinformação ao longo das próximas gerações. workshops e palestras em escolas, bem como campanhas de conscientização em redes sociais, são ferramentas eficazes para empoderar meninas e mulheres sobre seus direitos e necessidades durante o ciclo menstrual.
Medidas para enfrentar a pobreza menstrual
Combatendo a pobreza menstrual, é essencial unir forças para criar um cenário mais favorável à saúde menstrual e à dignidade de todas as pessoas que menstruam. Existem várias iniciativas que podem ser adotadas na luta contra esse problema recorrente:
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Educação e Formação de Professores: A implementação de currículos que incluam educação menstrual, formando professores capacitados para abordar o tema nas salas de aula, pode auxiliar a desmistificar o assunto e encorajar discussões abertas sobre menstrução. Além disso, as aulas podem abordar a importância da higiene e do autocuidado.
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Parcerias Público-Privadas: A colaboração entre o setor privado e as instituições públicas pode gerar um impacto significativo. Empresas de higiene menstrual podem ajudar a fornecer produtos e recursos educativos nas escolas, enquanto escolas podem servir como locais de distribuição. Essa sinergia pode potencializar a visibilidade e os resultados das campanhas.
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Campanhas de Conscientização: A criação de campanhas que abordem o tema da menstruação de forma aberta e transparente é fundamental para quebrar tabus. Ao expor as realidades enfrentadas por milhões de meninas e mulheres, pode-se gerar empatia e comprometimento na busca por soluções. As redes sociais são uma poderosa plataforma para disseminar essas informações.
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Apoio e Empoderamento Individuais: Cada pessoa pode se tornar um agente de mudança em sua comunidade. Ao incentivar o compartilhamento aberto de experiências e informações sobre menstruação, podemos ajudar a construir uma rede de apoio e solidariedade, tornando o tema menos isolante.
- Acesso a Produtos de Higiene: Além do programa mencionado anteriormente, é fundamental que a distribuição de produtos de higiene menstrual não se restrinja apenas a situações de vulnerabilidade extrema. A inclusão de absorventes em programas de saúde pública e nas caixas de emergência pode aumentar a facilidade de acesso.
Perguntas frequentes
Como posso acessar o Programa de Dignidade Menstrual?
Para acessar o programa, é necessário estar inscrito no Cadastro Único (CadÚnico) e se dirigir a uma Farmácia Popular com os documentos necessários, como identificação oficial e autorização gerada no aplicativo Meu SUS Digital.
Qual é a quantidade de absorventes que posso receber pelo programa?
Cada beneficiário tem direito a 40 absorventes higiênicos a cada 56 dias, ou seja, para utilizar durante dois ciclos menstruais.
Quem pode se beneficiar do Programa de Dignidade Menstrual?
O programa é destinado a pessoas entre 10 e 49 anos que se enquadram nas condições sociais estabelecidas, incluindo aquelas em situação de vulnerabilidade socioeconômica.
O que mais precisa ser feito para garantir a dignidade menstrual no Brasil?
Além da implementação do programa, é crucial fomentar a educação menstrual e garantir um acesso mais amplo a produtos de higiene em escolas e comunidades, desmistificando assim o tabu da menstruação.
Como a pobreza menstrual impacta a vida escolar das meninas?
A falta de acesso a produtos de higiene menstrual pode levar meninas a faltarem à escola, o que compromete sua aprendizagem e oportunidades futuras.
O que indivíduos podem fazer para ajudar no combate à pobreza menstrual?
As pessoas podem compartilhar informações, apoiar campanhas e iniciativas locais, e enfatizar a importância da inclusão e do empoderamento de meninas e mulheres nas discussões sobre menstruação.
Concluindo, a pobreza menstrual é um desafio significativo que afeta a dignidade de milhões de pessoas. Abordar essa questão não é apenas uma questão de saúde pública, mas uma questão de justiça social. Precisamos trabalhar juntos para garantir que cada pessoa que menstrua tenha acesso a produtos essenciais e apoio adequado, promovendo a dignidade menstrual como um direito humano fundamental. A luta pela dignidade menstrual não deve ser esquecida, mas sim festividades de empoderamento e inclusão, um verdadeiro passo em direção a um futuro melhor.
Editora do blog ‘Meu SUS Digital’ é apaixonada por saúde pública e tecnologia, dedicada a fornecer conteúdo relevante e informativo sobre como a digitalização está transformando o Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil.