A menstruação é uma experiência biológica comum, mas ainda cercada de tabus e desigualdades sociais profundas. A discussão sobre dignidade menstrual, por exemplo, é uma necessidade urgente que se impõe na sociedade contemporânea. A assertiva de Nívea Marques Monteiro, coordenadora do Marias – Coletivo de Mulheres da Educação de Maracanaú, no Ceará, evidencia como essa questão deve ser transformada em política pública. Isso não é apenas sobre garantir acesso a produtos de higiene, mas sobre a formação de uma cultura que respeite e entenda a menstruação como um aspecto vital da vida das pessoas.
Dignidade menstrual só avança com políticas públicas, defende coordenadora de coletivo de mulheres – Brasil de Fato
O programa Dignidade Menstrual, instituído em 2023, tem como objetivo fundamental a distribuição gratuita de absorventes a estudantes da rede pública e a pessoas registradas no Cadastro Único (CadÚnico). Este é um passo importante, mas não suficiente. Monteiro destaca que, além da distribuição de insumos, é crucial fomentar um debate mais amplo sobre a menstruação, que inclua a educação e a formação sobre o tema desde a infância. O momento em que a sociedade abraça a conversa sobre a menstruação pode ser considerado um indicador de seu avanço em questões de gênero e direitos humanos.
Menstruação: Arauto de Desigualdades
No Brasil, os números são alarmantes. Milhares de pessoas que menstruam enfrentam obstáculos severos devido à pobreza menstrual, uma realidade que se entrelaça com outras formas de desigualdade, como a falta de saneamento básico, acessibilidade e educação. Monteiro aponta que aproximadamente 713 mil meninas não têm acesso a chuveiros ou banheiros. Esse contexto é ainda mais lamentável quando se considera que cerca de 4 milhões de pessoas que menstruam não têm acesso a itens básicos de higiene. O silêncio sobre esse problema não é apenas uma questão sociocultural, mas um Estado que falha em suas responsabilidades.
As pessoas que menstruam e vivem em situação de vulnerabilidade se veem forçadas a usar métodos improvisados e frequentemente insalubres para lidar com a menstruação. Essa prática não só compromete a saúde, mas também a autoestima das pessoas, perpetuando um ciclo de exclusão e medo no ambiente escolar e em suas comunidades. Para além das estatísticas, esses dados representam vidas, sonhos e o direito à dignidade.
A Mulher e a Menstruação: A Educação Como Ferramenta de Combate
O papel da educação na desmistificação da menstruação é fundamental. É necessário que as escolas façam parte da solução, abordando o tema de maneira natural e inclusiva. Quando o silêncio predomina, a menstruação se torna um estigma, levando a situações de bullying e isolamento entre os estudantes. O conhecimento e a segurança em discutir sobre menstruação podem alterar a forma como as gerações futuras enxergam esse ciclo natural.
Implementar um currículo que inclua educação sobre saúde menstrual não é apenas uma questão de inclusão, mas uma necessidade. Para que haja respeito e compreensão, é preciso que se fale abertamente sobre o assunto, fazendo com que tanto meninas quanto meninos compreendam a importância do tema. Envolver os meninos neste debate é imprescindível para quebrar estigmas e promover um sentido de empatia e respeito às diferenças.
Urgência no Vocabulário e na Inclusão
Os esforços para transformar a dignidade menstrual em uma questão reconhecida socialmente não podem ignorar a diversidade. É importante incluir as vozes de pessoas trans e não binárias, que também menstruam e enfrentam desafios únicos nesta área. A linguagem que usamos para abordar o tema é igualmente significativa. Monteiro enfatiza a necessidade de ampliar o vocabulário, passando a falar abertamente sobre menstruação, sem eufemismos ou tabus. A frase “estou naqueles dias” precisa ser substituída por uma nova forma de encarar a menstruação, que seja direta e educativa.
Mais do que apenas palavras, essa mudança no vocabulário reflete uma transformação que é necessária em nossa sociedade. O silêncio em torno do tema implica em desinformação, que por sua vez, afeta negativamente a saúde e o bem-estar de muitas pessoas. A falta de informação sobre higiene, sexualidade e saúde menstrual resulta em consequências nocivas que se estendem além do ciclo menstrual, impactando a vida cotidiana e o desenvolvimento saudável de muitos.
O Papel do Coletivo Marias e a Vigilância Cidadã
O trabalho que vem sendo realizado pelo coletivo Marias desde 2018 é um exemplo claro da importância da atuação da sociedade civil na luta por direitos e dignidade. A arrecadação e distribuição de absorventes em comunidades vulneráveis não só supre uma necessidade imediata, mas também acende discussões essenciais sobre saúde menstrual em locais onde a precariedade impera. Monteiro destaca que a responsabilidade do coletivo vai além da distribuição; é fundamental cobrar e fiscalizar políticas públicas que garantam equidade e justiça social.
Os programas estabelecidos pelo governo, como o Dignidade Menstrual, são passos importantes, mas precisam da força e da continuidade de iniciativas como a do Marias para garantir que cheguem aos mais necessitados. O ativismo é um pilar nesse processo, e a vigilância cidadã é uma ferramenta poderosa que pode levar a verdadeiras mudanças sociais.
Perguntas Frequentes
Quais são os principais objetivos do programa Dignidade Menstrual?
O programa visa garantir a distribuição gratuita de absorventes para estudantes da rede pública e pessoas inscritas no CadÚnico, além de fomentar o debate sobre o tema.
Como a menstruação pode ser vinculada à desigualdade social?
Muitas pessoas que menstruam enfrentam desafios como a falta de acesso a produtos de higiene e a ausência de condições básicas de saúde, como água e instalações sanitárias.
Qual a importância da educação no debate sobre menstruação?
A educação é fundamental para desmistificar o tema, promover a saúde e garantir que todos os alunos se sintam confortáveis e respeitados em sua experiência com a menstruação.
O que é a pobreza menstrual?
A pobreza menstrual refere-se à incapacidade de obter produtos de higiene menstrual e ao acesso limitado a instalações sanitárias adequadas, afetando a dignidade e o bem-estar de muitas pessoas.
Como as escolas podem ajudar a controlar o tabu em torno da menstruação?
As escolas podem introduzir uma educação inclusiva sobre saúde menstrual, envolvendo tanto meninas quanto meninos na conversa e abordando o tema de forma natural e respeitosa.
Qual é o papel dos coletivos de mulheres na luta pela dignidade menstrual?
Esses coletivos atuam como agentes de mudanças sociais, cobrando políticas públicas, promovendo a educação e realizando ações de distribuição de produtos menstruais em comunidades vulneráveis.
Conclusão
A dignidade menstrual é um tema que transcende o simples ato de menstruar. É uma questão de igualdade, saúde e respeito. A necessidade de transformar essa discussão em uma política pública eficaz é inegável. Por meio de programas como o Dignidade Menstrual e a mobilização de coletivos como o Marias, podemos avançar em direção a uma sociedade onde todas as pessoas que menstruam são tratadas com respeito e dignidade. A batalha pela dignidade menstrual é, acima de tudo, um passo em direção à justiça social e à equidade de gênero.

Editora do blog ‘Meu SUS Digital’ é apaixonada por saúde pública e tecnologia, dedicada a fornecer conteúdo relevante e informativo sobre como a digitalização está transformando o Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil.