Mulheres cobram efetivação de lei sobre pobreza menstrual


A urgência da dignidade menstrual e o clamor por direitos iguais

A menstruação, um fenômeno biológico que acompanha a vida de uma significativa parcela da população feminina, ainda é envolta em tabus e preconceitos. Essa realidade é particularmente preocupante em nosso país, onde as desigualdades sociais se refletem na forma como as mulheres enfrentam a pobreza menstrual. Não se trata apenas da necessidade de garantir absorventes, mas de um profundo respeito pelos direitos humanos das mulheres. Em um contexto em que diversos fatores, como a saúde, a educação e a cidadania, se entrelaçam, é fundamental que a discussão sobre a dignidade menstrual se amplie e que as leis que abordam essa questão sejam efetivamente implementadas.

Recentemente, a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) discutiu essa temática, ressaltando a importância da Lei 23.904, de 2021, que visa garantir o acesso a produtos de higiene menstrual. Essa norma é, sem dúvida, uma tentativa de lidar com uma situação alarmante: mais de 4 milhões de meninas em todo o Brasil enfrentam a pobreza menstrual, um problema que resulta na falta de condições adequadas para gerenciar a menstruação, levando a sérias consequências na saúde e na educação.

Mulheres cobram efetivação de lei sobre pobreza menstrual



O movimento pelo reconhecimento dos direitos menstruais é crescente, e muitas mulheres estão se levantando para garantir que a Lei 23.904 seja cumprida. Durante a audiência, a deputada Leninha, autora da norma, revelou sua experiência como educadora em escolas da periferia, onde notou um grande número de alunas faltando às aulas durante o período menstrual. Essa realidade não pode ser ignorada, pois acaba criando um ciclo de desvantagem que dificulta o acesso à educação e, consequentemente, ao mercado de trabalho. A pobreza menstrual afeta não apenas a saúde física das mulheres, mas também sua saúde mental e suas oportunidades futuras.

Em Minas Gerais, a luta das mulheres é reforçada por dados alarmantes: mais de 500 mil meninas vivem em situação de pobreza menstrual. Essa estatística precisa ser um chamado à ação, uma vez que essa realidade impacta diretamente o desenvolvimento social e econômico do estado. A falta de acesso a absorventes adequados leva muitas a recorrerem a alternativas improvisadas e, muitas vezes, inadequadas, como o uso de tecidos não higienizados ou até mesmo de materiais como miolo de pão. Tais práticas podem provocar infecções e outras complicações de saúde.

Relevância da educação e conscientização

Para que essa situação seja transformada, é imprescindível que haja uma robusta campanha educacional que aborde não apenas a menstruação em si, mas também a saúde feminina de uma forma geral. O tabu que cerca essa questão deve ser quebrado. Isso passa pela discussão em escolas e comunidades, que deve incluir homens e meninos, de modo a promover uma cultura de respeito e empatia.

Adicionalmente, a educação deve ser acompanhada de políticas públicas que garantam o acesso a produtos menstruais em todas as esferas—escolas, presídios, abrigos e unidades de saúde. O que está em jogo é a dignidade das mulheres, que não deve ser deixada em segundo plano. A implementação da lei deve ser monitorada rigorosamente, e as vozes das mulheres devem ser ouvidas nesse processo.


Fábricas em presídios: uma solução sem eficácia?

A proposta de produção de absorventes em presídios é um passo interessante, mas levanta questões sobre a viabilidade e a execução dessa iniciativa. Isso foi evidenciado na audiência, quando a deputada Andréia de Jesus denunciou a falta de instalação dos equipamentos necessários para a produção. Apesar das promessas, a realidade é que muitos dos equipamentos permanecem parados, o que evidencia um descompasso entre o discurso e a execução prática. As mulheres que estão encarceradas também têm o direito de uma menstruação digna, e essa questão não pode ser negligenciada.

A produção de absorventes em presídios é uma ideia que deveria beneficiar não apenas as detentas, mas toda a comunidade. Com a alocação de recursos que são, muitas vezes, mal geridos, a esperança de transformar essa realidade se torna cada vez mais distante. O governo e as instituições precisam agir de forma proativa, implementando políticas que garantam não apenas a fabricação dos produtos, mas também sua distribuição eficaz para as mulheres que mais precisam.

O papel das ativistas e da sociedade civil

A participação ativa de mulheres e ativistas em busca da efetivação da lei sobre pobreza menstrual é essencial. Durante a audiência, várias participantes destacaram a importância do monitoramento das políticas públicas relativas à dignidade menstrual. A necessidade de pesquisas e mensurações dos resultados foi amplamente debatida, visto que existem inúmeras reclamações sobre a dificuldade de acesso aos produtos. É a sociedade civil, junto a movimentos sociais, que pode fazer essa pressão e exigir a implementação das leis criadas em benefício das mulheres.

Essa luta não é de um grupo isolado, mas deve ser um compromisso coletivo. A promoção de uma cultura de cuidado e respeito à saúde menstrual deve ser uma prioridade, e isso implica no fortalecimento da voz das mulheres, seja nas escolas, nas comunidades ou nas casas legislativas.

A perspectiva do governo e o papel das políticas públicas

Na mesma audiência, representantes do governo apresentaram dados sobre o andamento da distribuição de absorventes, mas as cifras apresentadas geraram ceticismo entre os participantes. Os números refletiam uma ação que ainda parecia aquém do que era necessário. É evidente que há uma falta de integração entre as diversas secretarias que deveriam trabalhar em conjunto para atender às necessidades das mulheres. Receber informações precisas e atualizadas sobre a distribuição dos produtos é vital para se avaliar a efetividade da Lei 23.904.

A implementação de políticas públicas eficazes e transparentes deve ser acompanhada de perto, com a participação ativa da sociedade civil e de especialistas que possam ajudar a configurar um modelo que realmente atenda às necessidades das mulheres em situação de vulnerabilidade.

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Perguntas frequentes

Por que a pobreza menstrual é um problema tão grave?

A pobreza menstrual é uma questão de saúde pública que afeta milhões de mulheres, limitando seu acesso à educação e ao trabalho. Isso tem implicações diretas na qualidade de vida e no empoderamento feminino.

Como a Lei 23.904 pode mudar a realidade das mulheres?

A lei busca garantir o acesso a produtos de higiene menstrual, promovendo dignidade e saúde. Sua efetivação pode resultar em menos faltas às escolas e mais oportunidades no mercado de trabalho.

Quais são os principais desafios para a implementação da lei?

Os desafios incluem a falta de recursos, a má gestão dos programas de distribuição e a necessidade de campanhas educativas para combater o tabu em torno da menstruação.

Como as mulheres podem se unir para cobrar a efetivação da lei?

A organização em grupos e movimentos sociais é fundamental. Participar de audiências públicas, levar a questão ao debate e sensibilizar a sociedade são formas eficazes de promover mudanças.

Que papel a educação desempenha na luta pela dignidade menstrual?

A educação é essencial para desmistificar a menstruação e promover uma cultura de igualdade de gênero, fazendo com que todos entendam a importância do acesso a produtos de higiene menstrual.

Como a sociedade civil pode incentivar a mudança?

Promover campanhas de conscientização, fazer pressão sobre os órgãos governamentais e apoiar iniciativas de formação e inclusão de políticas públicas relacionadas ao tema.

Conclusão

A luta pela dignidade menstrual é uma questão de direitos humanos fundamentais que, se não for adequadamente abordada, perpetuará desigualdades e injustiças sociais. A efetivação da Lei 23.904 é um passo essencial para garantir que as mulheres tenham acesso ao que necessitam durante o ciclo menstrual, mas isso não é suficiente. É preciso que cada um de nós, como cidadãos e cidadãs, esteja engajado nessa causa, quebrando tabus e lutando por um mundo mais justo para todas as mulheres. Por fim, a valorização da dignidade menstrual é uma responsabilidade coletiva, que exige comprometimento e ação de todos nós.