A discussão sobre a pobreza menstrual é uma questão que afeta profundamente a dignidade e a saúde de meninas e mulheres em várias partes do mundo. Em particular, no Brasil, essa temática tem se tornado uma pauta vital nas rodas de conversa sobre educação e saúde pública. Recentemente, a professora e arte-educadora Luciellen Castro levou o assunto à frente, produzindo e dirigindo o documentário “#Respeitenossofluxo”.
Este projeto, voltado para estudantes do Riacho Fundo I, busca não apenas dar voz às adolescentes, mas também abrir espaço para que suas experiências e preocupações sejam compartilhadas e discutidas. Com a adesão de diversas alunas, estratégias de escuta ativa foram implementadas, permitindo que as alunas expressassem suas vivências sobre a menstruação, um assunto que historicamente tem sido cercado de silêncio e tabus.
Pobreza menstrual e suas implicações
A pobreza menstrual é um fenômeno complexo que envolve não apenas a falta de acesso a produtos de higiene menstrual, mas também a ausência de educação sobre saúde menstrual e as implicações sociais e emocionais que isso acarreta. No Distrito Federal, onde mais de 271 mil mulheres enfrentam essa realidade, é urgente que se introduza uma discussão mais aberta e de conscientização sobre o tema.
A pressão social e cultural que envolve a menstruação faz com que muitas adolescentes se sintam constrangidas e incomodadas ao lidar com esse aspecto natural de seus corpos. De acordo com um levantamento realizado pelo UNICEF e pelo UNFPA, uma em cada quatro meninas já deixou de ir à escola durante o período menstrual por diversos fatores, como a falta de acesso a banheiros adequados e, infelizmente, o sentimento de vergonha.
Com base nisso, o documentário “#Respeitenossofluxo” vai além de simplesmente mostrar informações sobre menstruação. Na verdade, ele traz à tona questões essenciais como empoderamento, silenciamento e a necessidade de se escutar ativamente as vozes das adolescentes. Luciellen Castro afirma que o cinema é uma ferramenta pedagógica potente, e deve ser usado para sensibilizar e incentivar a reflexão sobre essas questões frequentemente ignoradas.
Escuta como prática pedagógica
A origem do projeto #Respeitenossofluxo remonta a um evento significativo: uma roda de conversa realizada no Dia Internacional das Mulheres em 2023. A proposta inicial era discutir temas relevantes para o público jovem, e a ideia foi construída com as próprias alunas. O que se destacou foi o desejo delas de abordar o corpo, os medos e as vergonhas que cercam a menstruação.
Esses diálogos revelaram não apenas as dificuldades que enfrentam, mas também a percepção de que muitos tabus ainda cercam a menstruação. O que se acreditava como um “simples” assunto de saúde é, na verdade, um tema que abrange questões de gênero e educação. Ao delegar a responsabilidade de conduzir a conversa aos próprios estudantes, a professora conseguiu fomentar um campo rico de troca, onde a descoberta e a reflexão se tornaram prioridades.
Durante as rodas de conversa, foram abordados temas como pobreza menstrual e dignidade. As meninas puderam expressar como se sentem em relação à escola, e as interações com os meninos também foram uma parte importante desse diálogo. O projeto não só buscou entender as necessidades das garotas, mas também provocou os meninos a refletirem sobre suas próprias atitudes e discursos em relação ao tema.
profissões e co-produção do documentário
Com recursos da Lei Paulo Gustavo, o projeto #Respeitenossofluxo não visa apenas a produção do documentário, mas o desenvolvimento de uma série de rodas de conversa que envolvem alunos e professores. A ideia é criar um material pedagógico acessível, que possa ser utilizado não só por educadores, mas também por outros profissionais na área da educação e saúde.
Uma das principais responsáveis pela condução das rodas de conversa é Ravenna Silva, uma mulher negra e candomblecista, que é altamente qualificada em educação em ciências e nas relações étnico-raciais. Sua presença é fundamental para que os alunos sintam-se à vontade para abordar questões que envolvem não apenas a menstruação, mas também as intersecções de raça e gênero na discussão.
Ravenna explica que menstruar em um país desigual significa enfrentar desafios complexos. Para muitas meninas, a ausência de água, absorventes e até de estruturas adequadas nas escolas é um reflexo das desigualdades sociais. É preciso que a sociedade compreenda que o tema da saúde menstrual não está restrito à esfera de saúde, mas é uma questão de dignidade e educação.
Desenvolvimentos e objetivos do documentário
A produção do documentário está programada para ter uma duração de 15 minutos e foi gravada durante várias edições das rodas de conversa. Esse material é pensado para ser apresentado em escolas do Riacho Fundo e outras instituições de ensino, possibilitando megadebates sobre a temática da pobreza menstrual. O documentário será também um ponto de partida para discussões que vão além da menstruação, permitindo que outras questões sociais sejam trazidas à tona.
As gravações devem ser finalizadas em agosto deste ano, com a edição prevista para ficar pronta até novembro. Luciellen já tem planos de inscrever o documentário em festivais de cinema, buscando não apenas visibilidade, mas também reconhecimento do trabalho feito por essas meninas e na formação do debate em torno da menstruação.
A equipe que esteve envolvida na produção e execução do projeto é composta principalmente por mulheres que não apenas trazem habilidade técnica, mas também vivências que se conectam diretamente com as pautas discutidas. É uma sinergia importante, pois a diversidade de vozes e experiências fortalece ainda mais o impacto do projeto.
Relação entre educação e dignidade menstrual
Um dos principais desafios da pobreza menstrual é a sua relação intrínseca com questões educacionais. Meninas que enfrentam essas dificuldades são frequentemente obrigadas a faltar à escola e, em última instância, isso pode resultar em evasão escolar. O acesso a produtos de higiene menstrual é essencial, mas cabe a discussão se isso é o único problema.
A educação sexual e a conscientização sobre saúde menstrual precisam ser parte da grade curricular nas escolas. Quando o conhecimento é disseminado desde cedo, quebra-se o ciclo do silêncio e do envergonhamento associado à menstruação. Luciellen e sua equipe propõem que a educação seja um caminho para a libertação e para o empoderamento das adolescentes.
Perguntas frequentes
Por que a pobreza menstrual é um tema importante?
A pobreza menstrual impacta a dignidade, a saúde e o direito à educação de muitas meninas, fazendo dela uma questão social urgente.
O que é o projeto #Respeitenossofluxo?
Este projeto busca dar voz às adolescentes sobre suas experiências relacionadas à menstruação e pobreza menstrual, promovendo diálogo, educação e conscientização.
Como o documentário será utilizado?
O documentário servirá como uma ferramenta pedagógica em escolas, promovendo debates sobre menstruação e problemas sociais correlatos.
Quantas estudantes participaram das rodas de conversa?
O projeto envolveu dezenas de estudantes dos CED 01 e 02 do Riacho Fundo I, permitindo um espaço para diálogos abertos e sensíveis.
Qual é o objetivo principal do documentário?
O objetivo é aumentar a conscientização sobre a pobreza menstrual e promover a dignidade menstrual, além de proporcionar empoderamento às adolescentes participantes.
Quando o documentário será exibido?
A exibição está prevista para ocorrer nos dois CEDs onde as gravações foram realizadas e em outras escolas, após a finalização da edição.
Conclusão
A iniciativa da professora Luciellen Castro é um exemplo maravilhoso de como a educação e a arte podem se unir para abordar questões sociais críticas. O documentário “#Respeitenossofluxo” não só traz uma abordagem inovadora para a pobreza menstrual, mas também luta contra o silenciamento e promove uma escuta ativa e sensível. Essa é uma jornada que visa não apenas informar, mas também transformar. Ao permitir que as vozes das adolescentes sejam ouvidas, Luciellen abre um caminho esperançoso para que novas gerações aprendam e discutam sobre saúde menstrual com respeito e dignidade.

Editora do blog ‘Meu SUS Digital’ é apaixonada por saúde pública e tecnologia, dedicada a fornecer conteúdo relevante e informativo sobre como a digitalização está transformando o Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil.